19 de março de 2010

O que chamamos de normalidade hoje?

"Uma vida totalmente livre de angústia não é boa!" Assim começou o Seminário da psicanalista Angela Valore no ultimo dia 11 de março em Londrina. Como tem sido vivida a angústia na atualidade? Se por um lado presenciamos passagens ao ato e acting-outs frequentes no meio social, por vezes sob a forma da criminalidade, de tentativas de suicídio ou homicídio que mal conseguimos compreender, por outro lado há uma legião formada de crianças e adolescentes que parecem manifestar uma "inibição generalizada". Inibição conforme foi conceituada por Freud em "Inibições, sintomas e angústia" (1926), e que indica uma outra forma de manifestação de sofrimento, diferente do tão conhecido sintoma, do qual o sujeito pode se por a falar e, tal qual uma metáfora, desfazer-se ao ganhar a via da palavra.
No entanto, os sujeitos que buscam ajuda nos consultórios (públicos ou privados) hoje parecem carecer do instrumento simbólico que concerne à formação dos sintomas. Por isso, a angústia toma outros destinos, dentre os quais a inibição como forma de preservar uma subjetividade ameaçada. Cabe-nos a interrogação sobre o que podemos chamar de normalidade hoje, pois a angústia já não tem lugar no laço social nem tampouco o sintoma, para os quais as medicações parecem apresentar o "bom remédio". No entanto, o que dizer dos adolescentes e jovens apáticos, sem desejos ou grandes paixões, despreocupados com o futuro, desinteressados da vida coletiva? Não seria esta a forma que encontraram de evitar a angústia? Não estariam aqui também incluídas as toxicomanias, os transtornos alimentares e tantos outros males da contemporaneidade?
Diante da inibição, a psicanálise continua a oferecer seu dispositivo legítimo - fazer circular na palavra o que até então permanecia sob a lógica da retenção.

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