19 de agosto de 2010

Sobre Inibições e Angústia na Adolescência

Angela M. S. Valore*

Penso em alguns adolescentes que chegam hoje em dia aos nossos consultórios, nesse estado
que bem poderia evocar o que foi dito de Hamlet, não fosse o fato de, ao menos à primeira vista,
suas vidas em nada lembrarem o trágico ou o grandioso. Deles também há quem diga que não
querem. Eles dizem que não podem. Mas a verdade, também para eles é que não podem querer. (1)
Aliás, o próprio fato de que venham nos ver é um acontecimento pouco comum, visto que
parecem perfeitamente alheios à angústia. Seria de perguntar então, porque me ocupo deles, quando
a angústia é o meu assunto.
Ocorre que há alguns anos venho observando uma certa inclinação do que vetoriza as
demandas de tratamento, num ângulo um pouco discordante, talvez, daquele que em geral tem nos
interrogado mais. Nas últimas décadas temos sido levados a nos referir, principalmente no que
concerne aos adolescentes, às toxicomanias, aos transtornos alimentares, à delinqüência, estadoslimite,
fenômenos de borda... Enfim, ao que tem sido chamado de novas patologias, novas
formações clínicas.
Sem diminuir sua importância e sem excluílas,
de minha parte, tenho tido ocasião de me
perguntar também o que é feito das velhas formações clínicas. Sobretudo, em relação a um certo
estreitamento do campo do sintoma, a respeito do qual já se tem dito tanto, ao que parece ser um
agravamento, se posso dizêlo
assim, seja quanto à freqüência, seja quanto à severidade, dos
quadros de inibição entre os nossos jovens.

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18 de agosto de 2010

EM NOME DO PAI


Por: Marta Dalla Torre

Valéria Codato A. Silva

Todos reconhecem a díade mãe-bebê como a relação primordial na vida de qualquer ser humano, levando-se em consideração que a criança humana nasce prematura e inacabada, necessitando, portanto, dos cuidados de outra pessoa para sobreviver e, em particular, da mãe. A mãe é aquela que acolhe o bebê desde seu nascimento, e até mesmo antes, ao habitar seu mundo imaginário, oferecendo a ele um lugar a ser ocupado em seu desejo. Através dos cuidados essenciais, a mãe que nutre e protege seu bebê, acima de tudo investe de afetos sua relação com o mesmo e estabelece com ele uma relação exclusiva e excludente que é tão necessária quanto sua ruptura. Através da alternância presença / ausência da mãe, a criança poderá pouco a pouco se diferenciar e separar - se da mesma em busca de sua própria identidade, e isso só será possível quando a mãe alimenta outros desejos e interesses para além de seu bebê. Portanto, é somente a mãe quem poderá transmitir um lugar terceiro entre ela e a criança, e que será ocupado, geralmente, pela presença do pai – um homem para o qual seu desejo de mulher se vê endereçado.

Então, o pai é aquele que “salva” o filho de uma relação dual, indiferenciada e mortífera, na medida em que separando - o da mãe (ao fazer dela sua mulher), o possibilita ingressar no mundo da linguagem, do simbólico, da cultura.

Torna-se desta forma, imprescindível que o pai e a mãe não abdiquem de seu lugar de homem e de mulher para que a transmissão da lei seja possível.

A figura do pai não pode se reduzir a um mero reprodutor biológico, ou como um mantenedor econômico de sua prole. Um pai não pode ser somente “pai-de-nome”. Sua palavra deve registrar uma autoridade, uma lei a preservar a saúde mental dos filhos. Portanto é “em Nome do Pai” que a criança deve abdicar de seu lugar supostamente de plenitude e completude junto à mãe para “des-colar” desta e “decolar” rumo ao social.

Mas, o que temos presenciado nesse contexto pós-moderno em que vivemos?

Diante das mudanças sócio-culturais ocorridas nas ultimas décadas e principalmente desde que a mulher saiu do mundo privado rumo ao público, deixando o ambiente doméstico em busca de outras realizações pessoais e profissionais, os papéis feminino e masculino no contexto da família sofreram alterações. Produziu-se uma mudança radical na maneira de se educar e de se relacionar com os filhos.

Por um lado, houve uma maior aproximação entre as gerações, sendo muito freqüente hoje observarmos pais e filhos fazendo programas em comum, como por exemplo: brincar no play-center, disputar jogos de computadores ou até mesmo soltando pipas e jogando bola juntos. Também é muito freqüente pais exercendo a função de “paternagem” quando se dispõem a auxiliar nos cuidados básicos com a criança (por exemplo trocar fraldas, alimentar, dar banho, etc.)

No entanto, o pai não deve se restringir a executar tais tarefas, nem mesmo se colocar numa posição “semelhante” em relação ao filho, o que conseqüentemente o faz “irmão de seus próprios filhos”.

O mais sério e agravante no momento atual é que à mulher é atribuído um poder incomensurável, o qual reduz a figura paterna a uma presença “dispensável”, quando não incômoda. As produções independentes (tão comuns entre atrizes globais) estão cada vez mais freqüentes.

O que dizer então das atuais possibilidades de concepção do ser humano, diversas da tão conhecida “Relação Sexual”? As manipulações científicas mais recentes na fecundação até mesmo excluem a célula masculina, o que possibilitaria a uma mulher se tornar mãe sem a presença ou menção a um pai, nem mesmo que fosse ele um mero doador anônimo.

Essas mudanças nos papéis masculino e feminino e por conseguinte de maternidade e de paternidade, os insere numa nova cena, na qual a ideologia se resume em consumir e acumular bens, o que não é sem conseqüências, já que seus sinais estão bem evidentes nas novas formas de sofrimento psíquico.

Estes reflexos estão também explícitos no social, onde o declínio do Nome-do-Pai, e a conseqüente indulgência às leis produz uma sociedade órfã. A ausência dessa referência terceira gera alternativas protéticas de organização social nas formações grupais ou bandos delinqüentes, ou ainda numa espécie de apelo à lei detentora nos atos homicidas tão freqüentes em escolas ou lugares públicos.

Não há como dispensar os inúmeros benefícios dos avanços da ciência e tecnologia, nem como retroceder aos velhos moldes da família, abdicando-se das conquistas femininas. Apesar do fascínio deste “Admirável Mundo Novo”, cabe a cada sujeito construtor de sua história e por conseguinte de sua comunidade, uma reflexão sobre o seu posicionamento frente a esta realidade.

9 de agosto de 2010

ATO ANALÍTICO PARTICIPA DO I CONGRESSO INTERNACIONAL SOBRE A CRIANÇA E O ADOLESCENTE - 15 A 17 JULHO 2010 - BA















As psicanalistas maringaenses Marta Dalla Torre e Valéria Codato ladeiam Jean Jacques Rassial. O psicanalista francês, cujo trabalho junto aos jovens adolescentes lhe confere reconhecimento internacional, tem várias obras publicadas em português, como "O adolescente e o psicanalista" e "O sujeito em estado-limite", ambas pela Cia de Freud, e que podem ser solicitados ao Ato Analítico.

3 de agosto de 2010

ADOLESCÊNCIA E A CLÍNICA PSICANALÍTICA HOJE

Seminário com


ANGELA VALORE


21 de agosto

SÁBADO



"A Adolescência e a clínica psicanalítica hoje"



Somos obrigados a reconhecer nosso próprio embaraço diante da dificuldade de propor uma definição do que vem a ser a adolescência. E na falta de uma,que seja sempre válida,produzimos inúmeras,aparentemente sempre insuficientes. O que não deveria nos surpreender. A adolescência é mais uma das curiosas invenções da era moderna. A rigor,poderíamos dizer que se trata de uma espécie de fenda no tempo. Criou-se o significante para designá-la e em seguida incluiram-se ai os sujeitos,sobre os quais, apesar de tudo, não somos capazes de dizer qual é o traço comum que os reuniria neste conjunto. Então dizemos que são um "não-conjunto",que se define pela diferença,pela singularidade.
Na falta de um estatuto próprio desse interlúdio,dizemos que habitam um "entre-duas-leis",do que decorre que,não estando ao abrigo de nenhuma,encontrem-se em um "não-lugar". Mas,finalmente,haveria algo que positivamente podemos afirmar sobre nossos jovens assim exilados,privados de um saber sobre seus deveres e,logo de seus direitos, a mercê de um discurso que oscila entre penalizá-los pela ilegitimidade a que são reduzidos e poupá-los de tudo? Afinal,o processo de mutação que se equilibra mal nessa borda entre o particular e coletivo,entre o subjetivo e o social e que só pode ser entendido como crise,não é sem custos,como o testemunham bem os problemas com as drogas e tantas outras formas de atuação. Em suma,os adolescentes,eles o são em risco. E nós,enquanto adultos,o que temos a lhes propor ?


LOCAl: ACIM Auditório do Centro de Capcitação
Rua Basílio Saltchuk, 388 - Centro - Maringá-PR

HORÁRIO: 8:30 às 11:30

INVESTIMENTO: R$ 35,00 (acadêmicos)
R$ 45,00 (profissionais)

INFORMAÇÕES E INSCRIÇÕES:
Ato Analítico - Clínica e Transmissão de Psicanálise
Av Independência, 258 - Centro Médico Suzuki - sala 408 - Zona 04- Maringá-PR
(44) 32254561 -

2 de agosto de 2010

ATO ANALÍTICO PARTICIPA DE MESA REDONDA NO I CONGRESSO INTERNACIONAL SOBRE A CRIANÇA E O ADOLESCENTE - 15 A 17 JULHO 2010 - BA



-“Ser criança é ser hiperativa?” A contituição subjetiva: passar de um lugar ao outro. A escuta psicanalítica no atendimento ambulatorial de saúde pública-
Marta Dalla Torre

O propósito deste trabalho é trazer a experiência de minha prática clínica em um ambulatório de saúde pública com crianças entre 3 a 6 anos .Trato especificamente dos casos que são encaminhados ao serviço de psicologia pelas creches, escolas, pediatras e neuro-pediatras, que trazem consigo um diagnóstico pronto de hiperatividade”, muitos deles, fazendo uso de Ritalina. Este diagnóstico é de uso corrente no discurso dos pais que demonstram seguirem a risca todas as orientações oferecidas pelo serviços de saúde para o cuidado de seus filhos ,do pré -natal às vacinas. Qual o lugar para o saber insabido dos pais na contituição psíquica de seu filho,quando o que parece prevalecer é o discurso do saber ciêntífico e das práticas higienistas ?

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1 de agosto de 2010

I CONGRESSO INTERNACIONAL SOBRE A CRIANÇA E O ADOLESCENTE: CLÍNICA, PESQUISA E CULTURA - Santa Cruz de Cabrália - 15 a 17 de julho de 2010


O psicanalista Alfredo Jerusalinsky ministrou curso pré-congresso intitulado "O que podemos dizer sobre a etiologia do autismo?", introduzindo sua apresentação fazendo uma retomada histórica do conceito de autismo, entrelaçado a uma visão positivista da ciência. Tal visão dá bases para a concepção do autismo dentro da perspectiva da defectologia, que aponta para um funcionamento defeituoso de caráter anátomo-fisiológico nos psicóticos, deficientes mentais, etc. Durante o Séc. XX, pode-se considerar que os autistas foram "órfãos" da teoria psicanalítica, pois eram considerados como fazendo parte das psicoses até a década de 70, quando passou a ser considerado como uma quarta estrutura, e somente na decada de 90 ganhou o status de um quadro próprio, separado de outros.
Do ponto de vista epidemiológico, o índice de autismo é baixo. No DSM-IV, Manual Diagnóstico dos Transtornos Mentais, o autismo foi incluído na categoria "espectro autística", causando mais confusão do que clareza diagnóstica, propondo uma combinatória aberta, com possibilidades multiplas.
A Epigenética tem contribuído para as pesquisas sobre o autismo pois é uma ciência que busca estudar a grande sensibilidade dos genes às transformações provocadas pelo meio ambiente, ao considerar que a produção dos efeitos genéticos não é autônoma.
Há um alto índice de crianças com Síndrome de Down e que apresentam sinais de autismo, quando não são atendidas antes dos 3 anos de idade. Por outro lado, quando atendidas antes dos 3 anos de idade, esse número cai consideravelmente, o que aponta para o fato de que há um psiquismo em formação que pode ser salvo ou recuperado nesses casos.
Não há pontos de identificação entre o autista e o Outro, e a Mãe não atribui ao bebê a condição de sujeito que pede, fala, sofre...O que leva Dr Jerusalinsky a propor que as estruturas mínimas anteriores ao Estadio do Espelho estão ausentes nos casos de autismo, e que é muito difícil detectar o autismo antes das identificações primárias.