24 de outubro de 2010

"Nunca fomos tão felizes" ou "Quanto custa a felicidade?"

Manchetes recentes em importantes veículos da mídia noticiam que a felicidade é apontada pelas estatísticas como mais um produto de mercado, portanto acessível ao consumo. E, em se tratando de consumo, seu índice se apresenta em crescente medida, proporcional ao aumento dos vários ítens que a tecnociência pode nos oferecer na atualidade.

É notório que a imagem da felicidade está associada a toda e qualquer publicidade, desde as inúmeras variedades de produtos alimentícios , aos remédios, planos de saúde, até de um funeral préviamente planejado.

A afirmação de que "nunca fomos tão felizes" é equivocada, pois foi por termos um dia essa primeira ilusão da plena felicidade e completude que não desistimos de procurá-la. Ilusão esta que sustenta o desamparo próprio do nascituro, que por ver se como pleno no amor do outro, que o acolhe nas suas necessidades vitais, se oferece como objeto de seu gozo. Momentos primordiais da história de todo ser humano quando se instaura a crença que nos sustenta vida a fora, numa busca constante da "terra do nunca", onde nada irá nos faltar.

Podemos então afirmar que felizes são aqueles que puderam perder esta "felicidade", pois este é o preço que se paga para viver /existir ;que deste pleno, deste tudo, possa se perder,se escapar,de ser objeto de gozo do outro(Outro),que aprisiona e paraliza.

Freud (1930) nos adverte em "Mal estar na civilização":'...não podemos pular deste mundo”, pois a busca, a falta, é inerente ao ser humano, a satisfação é sempre parcial. A dor do existir por mais nomes que os diagnósticos médicos possam oferecer , são variáveis do mesmo tema (melancolia,transtorno bipolar,depressão,síndrome do pânico),ela persiste, pois nela mesma reside a condição da vida ,promovendo a civilização com sua cultura e normas .

Nestes tempos onde os civilizados impõe a felicidade instantânea da "capa da revista "(com a perfeição que tanto o "photo shop" como o " face book" possibilitam na seleção de melhores momentos),como um estado perene possível,coloca a todos num movimento hiperativo, sem intervalos ,sem tempos(pois o tempo é um tempo que não se conta ,tempo real). Os espaços necessários, a temporalidade que constrói a história e os sentidos do existir ,da vida, são abolidos .Capturados por essa ânsia e ganância, o ser humano se tranforma em ser objeto a serviço deste gozo ilimitado do sem fim do consumo.

Temendo perder, acabamos por nos perder nesta ilusão d"A FELICIDADE", num estado de nada desejar, de apatia,esquecendo que a condição do desejo é a falta ,que convoca o sujeito a novas posições, novas buscas, novas construções ao seu modo, ao seu estilo,em intervalos que contam histórias.

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Ato Analítico - Marta Dalla Torre e Valéria Codato Antonio Silva

14 de outubro de 2010

JAIRO MARQUES

Solte essa criança!


Sou grato ao colo da minha mãe. Mas grato mais ainda sou à decisão que ela teve de me "soltar" para a vida

LEVEI MUITO A SÉRIO na minha infância aquela ordem do Milton Nascimento: "Vida de moleque é vida boa. Vida de menino é maluquinha. É bente altas, rouba bandeira Tudo que é bom é brincadeira".
Na época, minha cadeira de rodas era praticamente uma jamanta de tão grande e desconfortável, mas nada me impedia de ser criança.
Ia para a rua nas férias de julho e soltava pipa até os beiços ficarem rachados de tanto vento na cara. E, com a molecada empurrando minha "embarcação", eu me embrenhava nos matos para brincar de desbravador.
Mesmo tendo as pernas ou a coluna engessadas para tentar reparar a funilaria amassada que a pólio me deixou, minha mãe não me impedia de visitar meu mundo imaginário ao lado dos meus amigos, todos "responsáveis", no alto de seus seis, sete, oito anos.
Aquele ritmo de viver só era quebrado quando aparecia pelo caminho um adulto chato para dizer: "Ele é doentinho? Nooossa, a perninha dele é tão fininha! Ôh, sofrimento, né? Ele não pode ficar na rua, não!".
Lembro-me de ficar meio confuso e cheio de dúvidas com aquelas intervenções. Afinal, para mim, deficiência nunca foi uma doença, eu não me sentia triste com meus cambitinhos e tinha uma infância pra lá de legal, como deveria ser.
Criança pode até festejar ou estranhar as diferenças do amigo que é ceguinho, cadeirantinho, surdinho, mas logo ela deixa tudo para lá, porque o importante é saber brincar, é saber comer areia sem se engasgar, é saber imaginar os monstros e as fadas.
Mas o adulto... esse sim é um mala sem alça que quer proteger a todo o custo, que quer defender sem mesmo haver uma guerra. Se quem não cai não aprende a se levantar, quem não se levanta -por motivos diversos- só aprende que pode voar se não é cercado de um monte de galinha choca o tempo todo.
Foi moleque que descobri, aos pouquinhos, que eu não conseguiria ser o artilheiro do time, mas poderia me arriscar no gol fazendo defesas heroicas com meus braços longos. Foi moleque que percebi que não poderia correr no pique-esconde, mas poderia ser o fiscal da brincadeira para "ninguém roubar!".
Quando gente grande chegava no meio de minhas zoadas de crianças, só era legal quando inventava regras que me ajudavam a brincar "de igual para igual". Mas, quando a ideia era me fazer de "café com leite" porque eu, supostamente, era mais fraco, achava um saco.
Toda criança precisa de cuidados, de atenção, de guias para chegar com segurança às outras fases da vida. Sou grato ao colo da minha mãe, que foi a minha forma de locomoção até os seis anos de idade. Mas grato mais ainda sou à decisão que ela teve de me "soltar" para a vida, de me deixar ter sido criança.

O MUNDO DE EMILLY
Lá no blog, fiz uma semana em homenagem à molecada. Tem dica de filme com história falando de diversidade, tem história de um bebê cujo pai é tetraplégico, tem entrevista com o Maurício de Sousa sobre seus personagens Dorinha, que é cega, Humberto, que é surdo, Luca, que é cadeirante, e Tati, que tem síndrome de Down.
E tem também um ensaio realizado pelo fotógrafo Arthur Calasans sobre o mundo de uma menininha chamada Emilly e sua batalha por uma cidade mais acessível.

11 de outubro de 2010

O Dia, da Criança?

Em vésperas do dia da criança, parece oportuno para a mídia, para além de todos os produtos oferecidos para presentes, reflexões e debates a cerca de qual o modelo ideal para a educação dos filhos (lembrando que os pais dispõem de" Universidade para Pais"), como preencher a agenda das crianças com atividades, sejam elas de cursos, atividades físicas; sobre seu isolamento diante das telas; seus direitos legalizados ,etc.

O reizinho da casa, entronizado pelos pais e a família em geral, como aquele deverá realizar as insatisfações da vida dos adultos, é a grande sacada do mercado que oferece um universo de produtos desde as mega- produções hollywoodianas das festas infantis, aos espaços de brincadeiras com suas gramas artificiais e brinquedos à prova de esfoliações e galos na cabeça.

A proposta é completa: vacinas, roupas, brinquedos, alimentação, escolas, propostas do mercado que, visando seus lucros, atingem em cheio o ideal dos pais em proporcionar a seus filhos que nada lhes faltem. Contudo, esta condição lhes exigem, na maioria das vezes, redobrar horas de trabalho e, consequentemente, um distanciamento da vida de seus filhos. Nesta "roda viva", os adultos,os pais, esquecem que eles próprios poderiam oferecer o melhor produto: ocupando o lugar que lhes cabe ao exercerem sua funções de pai e mãe; garantir à criança um espaço para ser criança,sujeito em construção. Pois o tempo da infância se faz às custas de adultos que lhe dêem referencias balizadoras para seu crescimento.

"Cada criança em sua brincadeira comporta-se como o poeta,enquanto cria seu mundo próprio ou dizendo melhor,enquanto transpõe os elementos formadores de seu mundo para uma nova ordem mais agradável e conveniente para ela"(Freud,S. Escritos Criativos e devaneios)

É com suas brincadeiras que a criança se constrói, encontrando assim seu modo de entender o mundo adulto que a cerca.

Nestes tempos de "HIPERATIVIDADE" e "DÉFICIT DE ATENÇÃO", não caberia ao adulto, ele próprio diagnosticar se, considerando de quem é para ele a criança com a qual ele se ocupa (seja seu filho ,neto,educando)? Será ela um outro ,sujeito em construção,ou seu si mesmo que pretende realizar o impossível de tudo ser e tudo ter?

"12 de outubro ": dia da criança ou do adultriança?

*Curiosidade: na sala de uma renomada clínica de neurologia infantil consta o seguinte aviso:

" Senhores pais não deixem seus filhos jogarem papel e copos no chão"

Ato Analítico - Marta Dalla Torre e Valéria Codato Antonio Silva

VENDA DE LIVROS DA "CMC EDITORA"

LIVROS QUE O ATO ANALÍTICO OFERECE DE AUTORIA DE ROLAND CHEMAMA:

Depressão, a grande neurose contemporânea
Autor:

Roland Chemama
R$ 55,00

Sob a forma de uma série de cartas endereçadas a um interlocutor, o autor procura delimitar os elementos estruturais do que atualmente nomeamos depressão. O diagnóstico tem sido freqüentemente evocado para qualificar dificuldades subjetivas diversas. Seria preciso contestar sua pertinência? A depressão apresentaria uma unidade, pelo menos em um certo nível? Mais do que um humor sinistro, ela aparece como um desenvestimento radical do desejo, associado a uma paralisia da ação, que reúne impotência e utopia. Situando neste livro o que Lacan caracterizava como sendo “a grande neurose contemporânea”, o autor, em sua escrita literária ao mesmo tempo rigorosa e acessível, examina essa “doença do século”.

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Livro: Elementos Lacanianos para uma Psicanálise no Cotidiano
Autor:

Roland Chemama

R$ 45,00

As questões debatidas neste livro estão articuladas a uma interrogação fundamental: o analista e seu lugar na direção do tratamento do sujeito contemporâneo, uma vez que se modificam algumas das determinações que o constituem.
As teses lacanianas, que dão coerência a esta obra, também permitem abordar os discursos da cidade, pois os mecanismos do assujeitamento coletivo e os da alienação individual têm a mesma estrutura.

1º COLÓQUIO LETRA - A ANGÚSTIA

As psicanalistas Marta Dalla Torre e Valéria Codato A. Silva apresentarão seus trabalhos no Colóqio sobre "A Angústia"
de 30 de outubro a 1 de novembro de 2010 em Curitiba - PR


Inscrições Abertas - Vagas Limitadas
Acesse http://www.letra-psicanalise.com/ para maiores informações.

3 de outubro de 2010

CRIANÇAS COM DEFICIÊNCIA...UM OLHAR,UMA ESCUTA DIFERENTE



16 de outubro
SÁBADO

Hoje temos nos deparado com varias situações, entre elas, a presença de pessoas com eficiencia nas mais diversas situações: escola, teatro, mercado, locarl de trabalho, e muitas vezes nos preocupamos, ou damos mais atenção à deficiencia do que a pessoa com deficiencia. É preciso fazer uma reflexão sobre alguns aspectos com relação a este fato. Estamos perante algo que ainda provoca certo desconforto na maioria das pessoas. assim é importante conhecermos um pouco mais sobre estes sujeitos que estão ao nosso lado e a Psicanálise nos possibilita tentar olharmos para eles como sujeitos desejantes numa sociedade ondeestão conquistando seu espaço e tendo voz para clamar por si mesmo o que eles querem... para isso precisamos olha-los e ouvi-los como pessoas e como deficientes...


Curriculo:
Fabiana Cavalcante Lopes, psicanalista, com Formação em psicanálise; espcialista em Psicanálise e Educação especial; professora de psicologia e educação especial da Unopar nos cursos de pedagogia, educação fisica, quimica edireito na graduação e de Formação do sujeito na Psicopedagogia e Gestão Escolar na especialização; professora de Tecnologia assistivas na Especialização pela UENP em Cornelio Procopio.

INFORMAÇÕES E INSCRIÇÕES: Ato Analítico - Clínica e Transmissão de Psicanálise
Av Independência, 258 - Centro Médico Suzuki, sala 408 - Maringá-PR
(44) 3225-4561 - atoanalitico@gmail.com

INVESTIMENTO: R$ 35,00 - acadêmicos / R$ 35,00 - profissionais