Com o reconhecimento da diferença entre a criança e o adulto,passou se então a construir o sentimento de infância ,que não significava afetividade ,mas o que era peculiar da criança ,destinando a ela cuidados , que a colocava em um lugar de fraqueza e inocência.
Esta concepção da criança ,com o acesso à escola e a uma educação assistida, levou paulatinamente a uma infância prolongada.
Desta forma ,a aprendizagem que se dava na comunidade ,junto a várias famílias,e agora exclusiva da escola, produz uma profunda modificação no sentimento familiar e da infância ,provocando maior afeto entre pais e filhos.São estas as condições que dão origem à família moderna,fundada no amor materno e submetida ao poder paterno.Modelo onde a função materna e função paterna,davam, pela ordem geracional, um lugar distinto à mãe, ao pai e aos filhos;a família como célula da sociedade.
Esta concepção da família moderna ,na nossa contemporaneidade,vem sofrendo uma dissolução.
Segundo Charles Melman , "(...)pela primeira vez a instituição familiar está desaparecendo.Nesse processo podemos constatar que o papel da autoridade do pai foi definitivamente demolido." A lei transmitida pela função paterna ,ordenadora e referencial do laço social, claudica ,não sem consequências.Vale ainda dizer que ,o desenvolvimento biotecnológico, corroborando com esta "demolição paterna'', promove a ilusão de dar consistência ao desamparo do sujeito,que na roda viva do consumo, se faz consumir,num interrupto processo de produzir e consumir objetos de toda ordem.
A lei, é a lei do mercado,que promove uma busca sem limites, para atingir a excelência , a completude de nada faltar e de tudo se assegurar e controlar.
A medida da vida ,da ex-sistência é mostrada pelos estudos estatísticos, seja calculando o preço da felicidade ("A felicidade custa R$11 mil"-Folha de S.Paulo -A13-07 de setembro de 2010), seja no cálculo "da planilha de gastos e pesquisa de preços para evitar sustos depois do nascimento do bebê" (Folha de S.Paulo-B3,20 de agosto de 2012).
Sem tempo ,sem intervalos,o que falta ,é a falta,os intervalos necessários e fundadores dos tempos do sujeito e da história.
TEMPO, constituinte do sujeito, já no imaginário da mãe ,antes mesmo de sua concepção, e que portanto impossível de ser "fotografado",apesar de toda a tecnologia, e que, é neste lugar de desejo-de-filho,desejo inconsciente, que ele irá ser alojado e alojar se ao nascer.Lugar desde onde, este Outro Primordial ,a mãe, lhe recobrirá de palavras,de histórias e sentidos ,através de seus cuidados que exigem tempo e dedicação.
TEMPO ,onde também a mãe se organiza e precisa para si ,que promove intervalos nestes cuidados,possibilitando ao seu bebê, construir a organização de seu mundo próprio .
TEMPO, que abrirá o intervalo onde o pai ,que sempre esteve por ali,apareça, agora como aquele que diz outras palavras ,e conta outras histórias,dando assim a garantia que a criança precisa ,para sair do convívio familiar e encontrar se com os outros do social.
TEMPO em que a criança ao contar-se, aprende a contar ; falando,aprende a ler e escrever,criando e brincando,com seu tempo e a seu tempo.
Concluindo;um filho custa TEMPO ! Infelizmente,ou melhor felizmente,este produto ainda não esta disponível no mercado.
FELIZ DIA DA CRIANÇA!
por Marta Dalla Torre
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