31 de julho de 2011

Amamentar, se ensina?

Em pesquisas recentes foi verificado que uma a cada quatro mães não sabem amamentar. Apesar de todas as campanhas e orientações pró aleitamento materno,a maioria das mães apresentam alguma dificuldade.
As cenas do amamentar marcam as primeiras relações do bebê com sua mãe desde a pré história até a atualidade.A imaturidade e prematuridade do bebê ao nascer lhe coloca em uma grande dependência com a mãe,nos cuidados e tarefas que o bebê requer ,sendo a amamentação a que ocupa lugar central nestes primeiros laços e contatos essenciais para sobrevivência.
"No aleitamento a mãe ,ao mesmo tempo recebe e satisfaz o mais primitivo de todos os desejos."(J. Lacan ,Os complexos familiares.R.J.;J.Z.E.,1993)
Além do seio,da boca e do leite,a amamentação,no acolhimento da maternagem,é um processo de satisfação da relação mãe-bebê que inclui o rosto falante da mãe,com as trocas de olhares ,os toques ,o aconchego do abraçar ,os odores,e temperaturas,componentes estes que compõem a imago materna para o bebê.Esta oferta de uma mãe ao seu bebê, que ela se ocupe da amamentação, só é possível,se ela ,para além de saber do aspecto nutricional e vacinal do leite materno,acolha o na certeza de quem sabe traduzir suas demandas .Ouve no seu choro ,"me abrace estou com frio" e no seu olhar,"olhe para mim,estou te olhando", e nesta díade,construída pelo imaginário materno ao fazer de seu bebê sua criança maravilhosa, se faz a mãe que tudo provê.
Mas todos sabemos que estes tempos não são assim, " um conto de fadas ", pois ser mãe está mais para " padecer no paraíso".Padecimento que nos idos tempos de nossas bisavós era aliviado pelo amparo e suporte de toda família,comadres e vizinhos,que nos cuidados com a puérpera e o recém- nascido ,trasmitiam de geração em geração um aprendizado ,que sem jamais ser ensinado todos sabiam ,não só o parto era normal,como a amentação e todos os cuidados que este momento requer ,tanto para a mãe como para o bebê.
O ato de amamentar era parte deste contexto , inquestionável e consequência da maternidade.
Num olhar psicanalítico o que possibilita a uma mulher acolher um filho, seja no ventre seja nos braços ,é o resquício da vivência de seu Édipo.
Vivência que lhe abre uma ferida narcísica ,aliviada pela solução na equação falo -bebê.Cálculo este que só acontece se espelhado em um ideal primeiro e fundamental de seu psiquismo ,o narcisismo primário,inaugural ,onde houve a vivência ilusória e fugaz de completude com o Outro primordial,sua própria mãe.O que pode ser definido como a pedra fundamental ou marca de todas construções possíveis na vida ,que só é garantida ao preço de uma perda,que abre o caminho para as buscas sempre balizadas na nostalgia dessa experiência primeira .É portanto nesta operação psíquica que um filho vem se alojar .No ideal narcísico de uma mãe que, se vê nele completa.Ter um filho é uma rememoração que lhe reenvia a uma vivência imaginária de si de que nada parece lhe faltar.
Podemos então deduzir que,toda dor, choro ou manifestação de sofrimento do bebê faz esta mãe espelhar se ,ver se como uma mãe incapaz; pois além dela estar em uma revivência muito primitiva de seu próprio nascimento,vê se aí como insuficiente em atender as demandas de seu bebê .
O " padecer no paraíso", tem se transformado só em padecimentos,pois na nossa atualidade o que poderia dar suporte para esta travessia ,até que mãe e bebê fale a mesma língua não se faz presente, visto que os núcleos familiares se resumiram ao casal e filhos.
O que verificamos é a proliferação das campanhas ,cursos que ensinam as mães ,todos muito bem equipados com material específico,bebês bonecas, mamas artificiais ,enfermeiras treinadas que fazem demonstrações e descrições sobre as propriedades do leite,psicólogos para esclarecimentos sobre o vínculo afetivo,etc.Instrumentos e lições não faltam.
Será então que o que falta não seria escutar as mães em suas angustias e inseguranças para lhes devolverem a condição que é própria de uma mãe, espelharem se em seus bebês e ouvirem seus pedidos a elas dirigidos?Condição muito íntima e de uma língua particular que só a mãe legítima conhece .Dar espaço á singularidade de cada sujeito/mãe ,sustentada em seu desejo-de- filho.

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