5 de julho de 2010

ÉDIPO

“(...) O progresso do trabalho psicanalítico tornou cada vez mais clara essa importância do complexo de Édipo,seu reconhecimento converteu se no ‘shiboleth’ (traço distintivo ) que separa os partidários da psicanálise de seus oponentes.”-Freud,1905-“ Três ensaios sobre a teoria da sexualidade”, em nota acrescentada em 1920.

Freud aqui nos deixa claro o que sustenta aqueles que dirigem sua práxis segundo seu legado, pois para muitos ‘psicanalistas’, Freud é considerado superado, dependente de sua época em Viena nos anos 1900, de uma civilização onde o patriarcado era muito exigente. Contudo vale lembrar que alguns pais já não o eram, pois foi necessário um verdadeiro pai do patriarcado, Freud, para que o pequeno Hans fosse curado.

No desenvolvimento de seus escritos, a descoberta do Édipo deu-se a partir da análise de seus próprios sonhos como um duplo desejo inconsciente.

É na segunda tópica que o Complexo de Édipo adquire um valor conceitual ao articular a falta e a diferença dos sexos, o desejo e a lei, a castração e a angustia.

A partir de então,o complexo de Édipo se reordena, tendo como núcleo o complexo de castração, problematizando o drama edípico que, para o menino, trata-se da ameaça da castração por parte de seu pai em conseqüência de seu desejo pela mãe; e, para a menina, a inveja do pênis que supõe ser o objeto que iria satisfazer a mãe. Freud, assim retoma o complexo de Édipo em torno da falta que marca toda a psicanálise. Falta que ao mesmo tempo em que provoca o mal estar do sujeito ao criar a angustia de castração, também se instaura como causadora do desejo.

Com Freud, é o amor ao pai que promove o declínio do complexo de Édipo e cessa a angustia de castração, com a incorporação da autoridade paterna , o supereu, a voz do pai interiorizada.

Para Lacan, “abandonar o complexo de Édipo seria fazer da psicanálise um delírio”, e quando ainda fazia parte da IPA, ao ler Freud numa grande solidão, revisitou o Édipo freudiano, e para salvá- lo inventou três adjetivos que qualificaram o pai : Simbólico, Imaginário e Real, dando-lhe a posição de Édipo Estrutural.

Lacan nos indica que o mito grego utilizado por Freud não deve ser reduzido ao conflito Edípico imaginário, mas como um processo de normalização edípica pela submissão ao significante. Significante este que designa um lugar terceiro transmitido pela mãe ao inconsciente da criança - o Nome-doPai - significante que tem uma significação, o desejo da mãe, sua falta. Portanto não é a imagem do pai, mas este lugar fundado pela mãe, a partir do pai simbólico no inconsciente materno.

Pai Simbólico no inconsciente materno que agora dá lugar ao pai privador –pai Imaginário –quando a criança dirige sua demanda àquele que permite a ela deixar a mãe para receber ou o traço identificatório da virilidade, no caso dos meninos; ou um filho como substituto do falo, no caso das meninas. Para a criança, o pai que priva a mãe /mulher, que tem o que ela não tem, consequentemente priva a mãe de fazer de seu filho seu falo.

O pai real é o que permite à criança, à medida que cresce, operar o luto da grande imagem que ela pede ao pai. O real do pai não é o ideal, mas sim o que permite ao adolescente ou à adolescente reconhecer que o pai ideal não existe. O pai que está orientado, voltado para uma mulher- objeto a -causa de seu desejo, introduz a diferença de gerações e o interdito do incesto.

Lacan, ao constituir o princípio eficaz do Édipo pela metáfora paterna, ou seja, o Nome –do- Pai , leva a crer que sua função é a de promover a castração simbólica que tem como conseqüência a submissão do ser humano ao significante – Outro simbólico que permite ao sujeito abandonar as amarras do especular, as demandas do outro seu semelhante ,e poder se engajar no desconhecimento, tendo como o único apoio a lei significante inconsciente.

O sujeito é afetado pela estrutura que obedece uma lógica, os significantes que o determinam e o gozo do sexo que o divide, fazendo- o advir como desejante.

A descoberta freudiana do inconsciente é de que ele tem leis e comporta desejo, sobre o qual nem sempre o sujeito quer saber.

Com o avanço da ciência e o discurso do capitalismo, o Nome –do -Pai, que representa a instância simbólica da lei e a castração a que todos somos submetidos, constitui a verdade da descoberta do inconsciente, que não pode mais ser recalcada.

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