26 de julho de 2010

I CONGRESSO INTERNACIONAL SOBRE A CRIANÇA E O ADOLESCENTE:CLÍNICA, PESQUISA E CULTURA - Santa Cruz de Cabrália-BA - 15 a 17 de julho de 2010




Na conferência do dia 15 de julho, a psicanalista Marie Christine Laznik discorreu sobre o tema: “Tratamento conjunto pais – bebê em um caso de depressão materna”, através da apresentação em vídeo de seu atendimento clínico ao bebê romeno Lucca, realizado em conjunto: do bebê com a mãe, ora com a mãe e o pai, ora com o irmão mais velho de Lucca , ora também com a avó materna do bebê .

Lucca foi encaminhado para o atendimento com a Dra. Laznik aos 2 meses de idade; até então não olhava, e sua mãe apresentava um quadro depressivo compartilhado com seu bebê.

De acordo com Laznik, há na história de Lucca um real traumático que se repete em três gerações.

A história da avó materna de Lucca é marcada pela morte de seu primeiro filho ainda bebê e, diante de qualquer choro do bebê, objeto de gozo doloroso, há um prenúncio de morte.

A mãe de Lucca, por sua vez, sustenta “o mais de gozar de sua própria mãe” quando, diante do choro do seu filho, se apavora, encaminhando-o para ao atendimento de emergência.

O primeiro filho dos pais de Lucca, que morreu de uma doença neurológica causada por desnutrição, não pode ser velado por seus pais, e este luto permaneceu encoberto como não dito e não elaborado.

Lucca ocupa este lugar do irmão morto e não é olhado pelos seus pais.

Como não ser um puro fantasma do bebê morto?

Laznik em suas intervenções faz um trabalho de intérprete, ao restituir à mãe o valor de ato daquilo que seu filho acaba de fazer, pois se o sujeito é hipótese do Outro, a função do psicanalista é ajudar a restaurar o Outro materno. Assim, a psicanalista fala com Lucca, pois “..fala somente é fala à medida exata que alguém acredita nela”, conforme afirma Lacan - O seminário-livro 1, dando voz e sentido ao choro ou qualquer manifestação daquele bebê. Cortes que vem operar na massa sonora escutada e que precipitam uma significação, restituindo um sentido ao bebê, em detrimento de tantos outros.

No decorrer do trabalho com a psicanalista, a mãe reencontra a capacidade de falar com seu bebê. Certas formas de depressão materna podem impedir a mãe de ter esta competência.

Graças a uma identificação em espelho com a analista, a mãe reencontra uma imagem valorizada de seu filho, e rapidamente corporifica o fato de crer que os enunciados da criança constituem uma mensagem.

Ao entrar com a função paterna, incluindo o pai no jogo, retira a repetição do traumático, rompendo-a.

Após um ano e meio de atendimento, Lucca já mostra no jogo a incorporação de seu mundo representacional internalizado, livre de distúrbios psíquicos mais graves.

5 de julho de 2010

ÉDIPO

“(...) O progresso do trabalho psicanalítico tornou cada vez mais clara essa importância do complexo de Édipo,seu reconhecimento converteu se no ‘shiboleth’ (traço distintivo ) que separa os partidários da psicanálise de seus oponentes.”-Freud,1905-“ Três ensaios sobre a teoria da sexualidade”, em nota acrescentada em 1920.

Freud aqui nos deixa claro o que sustenta aqueles que dirigem sua práxis segundo seu legado, pois para muitos ‘psicanalistas’, Freud é considerado superado, dependente de sua época em Viena nos anos 1900, de uma civilização onde o patriarcado era muito exigente. Contudo vale lembrar que alguns pais já não o eram, pois foi necessário um verdadeiro pai do patriarcado, Freud, para que o pequeno Hans fosse curado.

No desenvolvimento de seus escritos, a descoberta do Édipo deu-se a partir da análise de seus próprios sonhos como um duplo desejo inconsciente.

É na segunda tópica que o Complexo de Édipo adquire um valor conceitual ao articular a falta e a diferença dos sexos, o desejo e a lei, a castração e a angustia.

A partir de então,o complexo de Édipo se reordena, tendo como núcleo o complexo de castração, problematizando o drama edípico que, para o menino, trata-se da ameaça da castração por parte de seu pai em conseqüência de seu desejo pela mãe; e, para a menina, a inveja do pênis que supõe ser o objeto que iria satisfazer a mãe. Freud, assim retoma o complexo de Édipo em torno da falta que marca toda a psicanálise. Falta que ao mesmo tempo em que provoca o mal estar do sujeito ao criar a angustia de castração, também se instaura como causadora do desejo.

Com Freud, é o amor ao pai que promove o declínio do complexo de Édipo e cessa a angustia de castração, com a incorporação da autoridade paterna , o supereu, a voz do pai interiorizada.

Para Lacan, “abandonar o complexo de Édipo seria fazer da psicanálise um delírio”, e quando ainda fazia parte da IPA, ao ler Freud numa grande solidão, revisitou o Édipo freudiano, e para salvá- lo inventou três adjetivos que qualificaram o pai : Simbólico, Imaginário e Real, dando-lhe a posição de Édipo Estrutural.

Lacan nos indica que o mito grego utilizado por Freud não deve ser reduzido ao conflito Edípico imaginário, mas como um processo de normalização edípica pela submissão ao significante. Significante este que designa um lugar terceiro transmitido pela mãe ao inconsciente da criança - o Nome-doPai - significante que tem uma significação, o desejo da mãe, sua falta. Portanto não é a imagem do pai, mas este lugar fundado pela mãe, a partir do pai simbólico no inconsciente materno.

Pai Simbólico no inconsciente materno que agora dá lugar ao pai privador –pai Imaginário –quando a criança dirige sua demanda àquele que permite a ela deixar a mãe para receber ou o traço identificatório da virilidade, no caso dos meninos; ou um filho como substituto do falo, no caso das meninas. Para a criança, o pai que priva a mãe /mulher, que tem o que ela não tem, consequentemente priva a mãe de fazer de seu filho seu falo.

O pai real é o que permite à criança, à medida que cresce, operar o luto da grande imagem que ela pede ao pai. O real do pai não é o ideal, mas sim o que permite ao adolescente ou à adolescente reconhecer que o pai ideal não existe. O pai que está orientado, voltado para uma mulher- objeto a -causa de seu desejo, introduz a diferença de gerações e o interdito do incesto.

Lacan, ao constituir o princípio eficaz do Édipo pela metáfora paterna, ou seja, o Nome –do- Pai , leva a crer que sua função é a de promover a castração simbólica que tem como conseqüência a submissão do ser humano ao significante – Outro simbólico que permite ao sujeito abandonar as amarras do especular, as demandas do outro seu semelhante ,e poder se engajar no desconhecimento, tendo como o único apoio a lei significante inconsciente.

O sujeito é afetado pela estrutura que obedece uma lógica, os significantes que o determinam e o gozo do sexo que o divide, fazendo- o advir como desejante.

A descoberta freudiana do inconsciente é de que ele tem leis e comporta desejo, sobre o qual nem sempre o sujeito quer saber.

Com o avanço da ciência e o discurso do capitalismo, o Nome –do -Pai, que representa a instância simbólica da lei e a castração a que todos somos submetidos, constitui a verdade da descoberta do inconsciente, que não pode mais ser recalcada.