Na conferência do dia 15 de julho, a psicanalista Marie Christine Laznik discorreu sobre o tema: “Tratamento conjunto pais – bebê em um caso de depressão materna”, através da apresentação em vídeo de seu atendimento clínico ao bebê romeno Lucca, realizado em conjunto: do bebê com a mãe, ora com a mãe e o pai, ora com o irmão mais velho de Lucca , ora também com a avó materna do bebê .
Lucca foi encaminhado para o atendimento com a Dra. Laznik aos 2 meses de idade; até então não olhava, e sua mãe apresentava um quadro depressivo compartilhado com seu bebê.
De acordo com Laznik, há na história de Lucca um real traumático que se repete em três gerações.
A história da avó materna de Lucca é marcada pela morte de seu primeiro filho ainda bebê e, diante de qualquer choro do bebê, objeto de gozo doloroso, há um prenúncio de morte.
A mãe de Lucca, por sua vez, sustenta “o mais de gozar de sua própria mãe” quando, diante do choro do seu filho, se apavora, encaminhando-o para ao atendimento de emergência.
O primeiro filho dos pais de Lucca, que morreu de uma doença neurológica causada por desnutrição, não pode ser velado por seus pais, e este luto permaneceu encoberto como não dito e não elaborado.
Lucca ocupa este lugar do irmão morto e não é olhado pelos seus pais.
Como não ser um puro fantasma do bebê morto?
Laznik em suas intervenções faz um trabalho de intérprete, ao restituir à mãe o valor de ato daquilo que seu filho acaba de fazer, pois se o sujeito é hipótese do Outro, a função do psicanalista é ajudar a restaurar o Outro materno. Assim, a psicanalista fala com Lucca, pois “..fala somente é fala à medida exata que alguém acredita nela”, conforme afirma Lacan - O seminário-livro 1, dando voz e sentido ao choro ou qualquer manifestação daquele bebê. Cortes que vem operar na massa sonora escutada e que precipitam uma significação, restituindo um sentido ao bebê, em detrimento de tantos outros.
No decorrer do trabalho com a psicanalista, a mãe reencontra a capacidade de falar com seu bebê. Certas formas de depressão materna podem impedir a mãe de ter esta competência.
Graças a uma identificação em espelho com a analista, a mãe reencontra uma imagem valorizada de seu filho, e rapidamente corporifica o fato de crer que os enunciados da criança constituem uma mensagem.
Ao entrar com a função paterna, incluindo o pai no jogo, retira a repetição do traumático, rompendo-a.
Após um ano e meio de atendimento, Lucca já mostra no jogo a incorporação de seu mundo representacional internalizado, livre de distúrbios psíquicos mais graves.