Nesta ultima semana, a obra literária em cuja órbita se movimentaram os diversos discursos e debates, foi "O Senhor das Moscas" de William Golding. A narrativa remete tanto a uma análise mais sociológica sobre a civilização e a organização de nosso mundo social, quanto a uma análise mais psicológica de seus personagens.
O autor nos leva para uma ilha, uma espécie de "paraíso perdido" onde se instala uma guerra entre anjos e demônios, tendo como pano de fundo o "mal que nos habita". Autores como Hobbes, Roussaeau, Durkheim, Freud, Lacan, Bauman, Melman, dentre outros, foram muitas vezes citados pelos conferencistas e palestrantes, fomentando um interessante debate interdisciplinar, num espaço de intersecção e interlocução entre diferentes campos do (não)saber.
Num mundo sem adultos ou sem referências, os personagens, crianças e pré-adolescentes se mostram desorientados após um período inicial de euforia sustentada na idéia de uma liberdade sem limites. No entanto, com o passar do tempo, mediante a imperiosa "necessidade de sobrevivência", agem como seres primitivos aquém de qualquer moral ou ética que se diga humana.
Seja do ponto de vista político-social, seja da perspectiva psicossocial, as Jornadas trouxeram um debate instigante sobre como o homem contemporâneo, que se crê livre das tradições e das referências simbólicas, encontra-se desamparado e mais preso do que nunca às forças demoníacas da pulsão de morte, tal qual Freud propusera.
Devemos considerar que a barbárie não é apenas anterior à civilização como também interior à ela. Barbárie e civilização, nos ensinou Freud, não são excludentes, mas se atravessam e fazem parte do "pacto social", pré-condição daquilo que os iluministas denominaram "contrato social".
A lógica do contrato social sustenta-se na idéia do reconhecimento do outro como pessoa, da alteridade, da diferença. Numa sociedade onde esta condição se vê apagada, na qual os laços fraternos prometem susbstituir o lugar paterno como a referência terceira que nos salva da identificação imaginária e instaladora das relações duais paranóicas, só podemos esperar o retorno do pior!