11 de abril de 2010

O ATO ANALÍTICO

OO ATO ANALÍTICO

O ATO ANALÍTICO


“[...] é preciso que cada psicanalista reinvente a partir do que ele extraiu de sua própria análise, a maneira pela qual a psicanálise poderia perdurar”.

(Lacan, J. Congresso sobre a transmissão, 1978)

Ler Lacan implica isolar determinadas proposições ou enunciados freudianos que têm o peso de ato fundador, pois com seu retorno à Freud, Lacan reinventa a psicanálise ao considerar a dimensão do Real e sua articulação com o ato e a linguagem.

Desde Freud, o ato da interpretação articula o desejo e o Real da experiência de satisfação, produzindo fragmentos da verdade inconsciente, que interrogam a posição do sujeito frente ao seu próprio desejo e sofrimento.

O registro apaziguador do simbólico, tão bem apontado por Freud na cura pela palavra, permite o entendimento, a compreensão, o sentido, mas não dá conta de tudo dizer do sem sentido presentificado nos atos falhos, nos sonhos, nos tropeços, nas repetições do desmedido e incomensurável Real que sempre bate à porta nas formações do inconsciente.

Enfatizando o desejo como causa, Lacan nos adverte sobre a dimensão do Real, do saber insabido, do perigo da alienação ao saber totalizante. Fundador de uma discursividade, apropriou-se da lingüística, matemática, lógica, topologia, antropologia dando novos sentidos ao que já estava em Freud e foi esquecido: o objeto a, o Real, o Imaginário e o Simbólico.

Sendo assim, Lacan inaugura uma prática da psicanálise que abre a dimensão do ato analítico. A posição do analista que provoca inquietações e novos interrogantes sobre o saber insabido do inconsciente, aponta para o lugar da falta, para a impossibilidade de articular saber e gozo, posto que a verdade toda, jamais é alcançada.

Considerando que o sujeito se constitui a partir da relação com o outro, a psicanálise também nos permite indagar sobre quem é o sujeito da cultura contemporânea. Ao escutar o sofrimento na dita pós-modernidade, o ato analítico interpela o sujeito na sua condição de desejante, já que, inserido numa cultura do gozo, alienado no saber da ciência e da tecnologia, abandona sua existência em busca de objetos de consumo que supostamente preencheriam sua falta, essência do desejo.

Diante do esvaziamento do lugar do Outro e de seus representantes, do esvanecimento do simbólico na cultura atual, exclui-se a palavra como condição humana de preenchimento da falta e aparece o corpo como lugar privilegiado de diferentes manifestações de sofrimento nas toxicomanias, na psicossomática, nas crises de pânico, nas anorexias e nas bulimias. A prática da psicanálise se contrapõe a este estado de passividade e assujeitamento, ao apontar para o sujeito um outro lugar de ex-sistir.

Cabe ao analista a condução de uma análise. Com suas intervenções, produz ato analítico, levando o sujeito a responsabilizar-se pela sua própria análise e pelo trilhamento de sua vida, o que o conduzirá a um grau de liberdade à medida que reconhece seus desejos, autorizando-se a novas criações.

“A psicanálise é uma prática delirante, mas é o que se tem de melhor atualmente para que se tenha paciência com essa situação incômoda de ser homem. É em todo caso o que Freud encontrou de melhor.” (J. Lacan)

Marta Dalla Torre e Valéria Codato Antonio Silva

Psicanalistas, Membros fundadores do Ato Analítico – Clínica e Transmissão de Psicanálise

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